Quando a personagem Mulher Maravilha ganhou uma série de TV (piloto exibido em 7/11/1975 e a 1ª temporada exibida entre 21/04/1976-16/02/1977) os responsáveis pelos quadrinhos decidiram que o cenário da série – a 2ª Grande Guerra – era o ideal para a personagem. Como a DC Comics é conhecida pelas decisões lentas, a mudança só chegou em Wonder Woman 228 distribuída em 15/11/1976, mas com data de capa de fevereiro de 1977.
A série, no entanto, foi cancelada pela ABC e retomada pela CBS em setembro de 1977, onde faria mais duas temporadas. Mas, sutil detalhe, nas temporadas na CBS a série se passava no presente! Novamente o material dos quadrinhos estava deslocado, mas chama a atenção da necessidade de produzir algo que reflita boas ideias surgidas em outras mídias, algo que hoje se tornou um padrão.
A primeira edição deste arco de histórias Wonder Woman 228 começa da Terra 1, a Terra em que as aventuras do presente da DC Comics eram narradas. Um dispositivo voador traz o vilão nazista Panzer Vermelho do período da 2ª Guerra da Terra 2 para o presente da Terra 1 (1976). A Mulher Maravilha é levada para o passado da Terra 2, se associa à sua contraparte e juntas derrotam o vilão (edições 228-229), sendo que Diana retorna à 1976.
A partir daí a série passa a apresentar histórias da Mulher Maravilha da Terra 2 durante a 2ª Guerra para refletir a série de TV. A produção é de Martin Pasko, José Delbo e Vince Colletta. Posteriormente Pasko é substituído por Gerry Conway. Minha crítica é que invariavelmente são aventuras curtas com, no máximo 19 páginas por edição ou duas edições que em geral trabalham mal a trama. Não raro a heroína é capturada com o truque de aprisionar as mãos para subjugá-la e mesmo o vilão inicial, Panzer Vermelho, não é bem trabalhado. Ele é um cientista nazista e que eventualmente aparenta ter um corpo robótico ou cibernético, mas não é trabalhado o suficiente. Parece uma versão caricata de outros personagens nazistas, mas sem nenhum nível de profundidade e o caso se repetiria com Capitão Strung, Armageddon e Kung, outros vilões deste período.
A Mulher Leopardo surge como vilã na edição 230, mas não é uma história interessante, centrada muito na preocupação de uma identidade secreta e na sua manutenção.
A trama das edições 231-232, onde uma deusa chamada “Osira” retorna de seu descanso quando um tanque destrói sua tumba e crê que Steve Trevor é seu parceiro me soa melhor porque tem uma participação da Sociedade da Justiça – eventualmente a EBAL errava dados, tradução e confundia a Sociedade com a Liga da Justiça. O desenho de Bob Brown (231) ousa um pouco mais, mas o artista Michael Netzer (232) me parece ser um talento pouco valorizado da DC. As vezes um detalhe singelo como o fato de o Starman usar a Esfinge para destruir a heroína e destruir o monumento chama mais a atenção do leitor que não se empolga com a história. Ao final da edição Starman fica no Egito para reconstruir a Esfinge!?!
A
trama das edições 233-234 mostra o Capitão Strung, um
nazista que controla animais dos oceanos em uma “trama de
alto-mar”. Na verdade, o capitão mantêm um prisioneiro de origem
alemã que tem estes poderes e se submete às ordens de Strung porque
seus filhos são mantidos reféns. Arte de Don Heck com texto
de Gerry Conway. O chamariz da edição é o uso de um tubarão na
capa e um “dragão marinho” nas páginas internas, mas há uma
repetição de tramas quando a heroína tem suas mãos aprisionadas.
Fiquei fascinado com o detalhe de que uma creche se recusa a receber
as crianças quando, após a morte do pai, a Mulher Maravilha tenta
encontrar um lar para eles. A trama na creche é conduzida como preconceito com
vítimas da guerra em função de sua origem alemã.
Armagedon,
outro vilão nazista, é introduzido como vilão secundário e sua
trama ganha espaço nas edições 235-236, onde temos a participação
do médico cego Dr Meia Noite. Armagedon injeta um produto
químico em Steve Trevor que o transforma em um monstro (com visual
parecido como o “Arrasa Quarteirão”) e ameaça o
presidente e o Estado-Maior. Ao final da edição 235 ele “morre”,
mas descobrimos que está vivo e que há um antídoto, o quê leva a
Mulher Maravilha a ter que escolher entre prender o vilão ou salvar
o homem que ama. Muito do desenvolvimento de Dr Meia Noite soa a Matt
Murdock/Demolidor, especialmente sua habilidades de audição distintas e
uso de bomba que criam fumaça e escuridão para os inimigos. Mas a principal dúvida é: no contexto de metade do século XX qual seria a função de um médico cego?
A edição 237 introduz Kung, um assassino transmorfo que foi enviado para matar o General McArthur, mas o bizarro é a ideia de que existia uma “Diana Prince” na Terra-2 e que, quando a Mulher Maravilha chegou na América, encontrou a moça e financiou a viagem da senhorita Prince à América do Sul e assumiu sua identidade! Bizarro eu sei! Mas acho que alguém notou que Diana precisava de um passado militar para desempenhar as suas funções e então usou esta costura para justificar. De Conway, Delbo e Colletta. A segunda parte do confronto contra Kung, que aparentemente morreria ao final da edição, tem participação de Sandman & Sandy. Anos depois Kung apareceria em All-Star Squadron 8, mas a ação é anterior a esta edição.
As edições 239-240 se passam em junho de 1942, razoavelmente ainda no início da colaboração dos americanos na Guerra - eles entraram na guerra em dezembro de 1941 após o ataque a Pearl Habor.
Aqui o Deus da Guerra está descontente com a colaboração de Diana na guerra e o Duque da Decepção se candidata a desacreditar a heroína criando ilusões que a põe em confronto com as Forças Armadas – uma extensão da trama em que enlouquecida pela “perda” de Trevor Diana destrói tanques. Participação do Flash da Terra-2 e chama a atenção alguns diálogos onde a Mulher Maravilha aborda que não precisa de ajuda de outros heróis, ainda que sua série tenha se tornando basicamente algo como “Mulher Maravilha e astro convidado da Terra-2”.
A costura da edição 241 é ruim, ainda que tenha Joe Stanton, um bom artista. Há o Saltador, um vilão que tentará roubar doações e por crianças em risco. Há a narrativa feita pelo Espectro e a presença do “Super-Samurai”, um eco do especial em que uniu o Superman e a Mulher Maravilha. Frenética, mas vazia de conteúdo o detalhe que fica é a trama de Etta Candy que encontrou um namorado francês e foi pedida em casamento e o noivo, Pierre Marchand, não terá sua trama concluída, ainda que tudo indique que seus objetivos não eram nobres.
Tudo parecia que ficaria neste nível de desenvolvimento: a trama de Etta Candy, mais participações da Sociedade da Justiça, algum outro cross-over (como o com Superman). Mas a edição 242 inicia com a comemoração pelo fim da 2ª Guerra, mostrando um salto enorme!
A trama também é risível: Steve é raptado por alienígenas e transformado! É inevitável o confronto e previsível o resultado. Uma subtrama mostra Sr Destino e Espectro conversando com a Rainha Hipólita para convencê-la a deixar Diana no mundo dos homens mesmo após a Guerra – uma preocupação constante da personagem. A edição termina com os personagens do núcleo projetando o quê farão agora que a guerra acabou e um vilão chega da Terra-1!
A última edição da fase é o confronto entre o Homem-Triângulo (ou Homem-Ângulo) da Terra-1 que ao tentar fugir usando os poderes de sua arma (fornecida por Darkseid) vai para o passado da Terra-2 repetindo o feito do Panzer Vermelho e une as duas versões da Mulher Maravilha para derrotá-lo e encerrar as aventuras no passado. O texto destas duas edições foi de Jack C Harris e costura rapidamente as coisas para encerrar a guerra e voltar a trama para a Mulher Maravilha da Terra-1, não sem ser abrupto.
E assim se encerra esta fase.