Eu tenho uma certa
resistência a história curtas. Criado na “cultura” de
quadrinhos norte-americana, um dia me disseram que as histórias
longas eram mais elaboradas e fiquei com esta impressão. Claro que
tramas picotadas como “Terra Devastada” e as histórias de
Marvel Comics Presents não ajudaram a tirá-la.
Um dia eu passei a
acreditar piamente que história boa tinha, obrigatoriamente, de ser
história longa.
Estava enganado, é
claro.
* * *
Meu primeiro contato com
“a lei” foi nos encontros com personagens da DC Comics,
os quatro com Batman e o encontro com Lobo. Eram
divertidos e produzido por uma equipe que conhecia ambos os
personagens (Alan Grant & John Wagner), mas
essencialmente eram histórias dos personagens da DC Comics em
ambientes estranhos ou paródias do comportamento obsessivo de ambos
os personagens.
Então ironicamente no
ano em que a população começou a ocupar as ruas para protestar e
invariavelmente iniciou um processo de antipatização com os
policiais militares dos grandes centros urbanos do Brasil, temos a
estreia em uma série mensal em formato magazine do Juiz Dreed. E não
posso deixar de pensar em como o juiz trataria os manifestantes.
As edições #1-5
da série da Mythos Editora trazem dois arcos relacionados:
Total War (2000 AD #1408-1419, 2004) e After the
bombs (2000 AD #1420-1422, 2005). No primeiro um grupo
terrorista ameaça explodir artefatos nucleares em Mega City a
menos que os juízes abdiquem de suas funções. Quando chegam às
vias de fato e explodem um setor, os juízes abrem mão de suas
funções publicamente durante a investigação e captura dos
responsáveis, que já se encontram divididos. É um engôdo para
manter as aparências, uma maquiagem para manter a ordem. Muito
semelhante ao processo decisório dos mandatários de plantão em
algumas cidades brasileiras.
O segundo arco, menor,
trata da recuperação de uma das terroristas que se torna cognitiva
após ser ferida nos ataques atômicos. Envolvendo perseguição e
captura, a história mostra a crueldade dos agentes policiais ao
manter um fragmento de metal no crânio da terrorista, pois é a
única maneira de manter seus recém-adquiridos dons.
De pano de fundo uma
tragédia familiar envolvendo o destino de um clone, Nimrod, e
da sobrinha de Dreed, Vienna. Roteiro de John Wagner e
arte de Henry Flint (Total War) e Jason Brashill (After
the bombs).
Diante de um mercado sem
muitas opções nas séries mensais, Juiz Dredd
Megazine e Escalpo (na série Vertigo da Panini
Comics) brilham nas bancas, trazendo um material que não finge
ser adulto mas que procura oferecer soluções diferentes daquelas
que já se mostram esgotadas em infinitas repetições e
reformulações.
Vale a pensa acompanhar.