A
primeira impressão que se tem quando se lê um livro de 25 anos que
fala sobre tecnologia é que a tecnologia retratada, assim como a
linguagem e a maneira como foi escrito caducaram, afinal em 1.984 já
existia uma série de coisas que eram retratadas no livro, mas em um
nível diferente, acadêmica ou empresarial. Assim, rede de
computadores para transmissão de dados, celulares e bio-engenharia
já existia, mas ninguém realmente os conhecia e tudo era apenas um
modelo de ficção científica. A maneira de se referir a algumas
coisas resultantes da criatividade humana estava mais para Star
Trek com que para uma ficção científica (sci-fi)
razoavelmente pé no chão.
Isso
não aconteceu com Neuromancer, romance de sci-fi de
William Gibson, considerado o inaugurador do movimento
cyberpunk.
Naquele
tempo retratado as grandes corporações tomaram o lugar do Estado.
Elas eram o estado. A matrix – o cyberespaço – era
possível de ser acessada e ser vivenciada – alguém falou em
internet, redes sociais e uma segunda geração de programas como o
atualmente finado Second Life?
Isto
era (é) o cyberpunk em suas origens, e é aqui que
encontramos Case um sujeito no meio do caminho da última
volta de seu parafuso, exilado quimicamente da matrix e cada
dia mais próximo da última trapaça. Mas Case encontra Molly
– uma ninja em couro, olhos com lâminas espelhadas e lâminas sob
os dedos – e Armitage – um militar obsessivo, mas
militares obsessivos não são exatamente o tipo de sujeito em quem
devemos confiar – que lhe oferecem uma chance de redenção – e
redenção aqui quer dizer voltar para a matrix – em troca
de um servicinho cheio de detalhes; muitos detalhes; detalhes sujos.
Para coroar este aglomerado – porque é um aglomerado e não uma
união – de pessoas, temos uma inteligência artificial cheia de
ideias pouco razoáveis.
Primeiro
romance a ganhar os três maiores prêmios da sci-fi (Hugo,
Nebula e Philip K. Dick) Neuromancer envelheceu
bem e sua linguagem ainda é desafiante, atual. A história é bem
narrada, ainda que aqueles que estão acostumadas a lerem livros que
seus pais leriam, possam achar que há sexo, violência, drogas e
referências obscuras demais. Outros podem achar que estão lendo a
história que influenciou uma geração.
Neuromancer
(ISBN 978-85-7657-049-3), Aleph (2012, 4ª edição, 4ª
reimpressão), publicado originalmente em 1.984. Tradução de Fábio
Fernandes a partir da edição de 25 anos.