DC faz reboot... novamente!, Parte 2: Múltiplas narrativas... múltiplos universos, I

Muita gente fala mal dos múltiplos universos e da confusão cronológica na DC Comics, mas infelizmente é a “criatividade” dos roteiristas e dos homens de negócio das empresas que cria universo após universo, realidade após realidade, selo após selo.

Veja um exemplo simples.

No meio dos anos 1.990 a Marvel Comics fez um acordo com um estúdio de TV e licenciou seu mega-sucesso X-Men para uma série de desenhos animados.

Os desenhos fizeram sucesso e geraram uma série em quadrinhos adaptando o desenho.

Com isso temos então três universos: a) o universo original; b) o universo da série de TV e, c) o universo dos quadrinhos que adaptavam a série de TV que era diferente do original e também diferente da série de TV.

Agora pegue o exemplo e some 75 anos de existência na divina concorrente e você terá dezenas de versões e sub-versões dos personagens. Cada um dá uma pitada para ver o quê funciona.

Na Coleção DC 70 Anos há uma aventura do Lanterna Verde Kyle Rayner que explica que Hal Jordan enlouqueceu depois que teve contato com a consciência de um maltusiano, o vilão Krona. Geoff Johns “esqueceu” isso e reaproveitou o conceito de Parallax somando-o a uma impureza que dava a liga para a força de vontade, tornando-a fisicamente existente e permitindo assim, criar baterias e anéis, para explicar que foi o bicho amarelo que contaminou Jordan. Esta segunda história funcionou melhor aos olhos dos fãs e decidiu-se que esta seria a razão para a loucura de Jordan.

Mas isso não muda o fato que originalmente Parallax era apenas uma personalidade revisionista de Hal Jordan, não verdadeiramente maligna, mas certamente bem distante de ser um herói. As revisões tornaram Parallax o equivalente à Fênix Negra, já que nem Hal Jordan, nem Jean Grey foram culpados por seus crimes e sim as criaturas que viviam neles.

Outro exemplo de adaptação é a cine-série dos X-Men que influenciou o visual dos quadrinhos com seus uniformes de couro e ao mesmo tempo foi influenciada por histórias marcantes como “Deus ama, o homem mata” (o segundo filme da franquia) ou a cura mutante na série de Joss Whedon e John Cassaday chamada Astonishing X-Men.

Quero mostrar com isso que não existe uma “origem correta”, mas um apanhado do quê funciona ao longo dos anos. A exposição neste ano de Capitão América, Thor, Lanterna Verde e X-Men irá providenciar uma nova leva de “releituras” de origens para manter a essência dos quadrinhos, mas também – e principalmente – mostrar ao leitor que acabou de sair do cinema algo que ele possa identificar-se.

Daí surgem os tais “universos alternativos” e quando um deles faz sucesso logo recebe uma série contínua como o universo Marvel Ultimate, que começou para simplificar a complexa cronologia Marvel.

No Universo Ultimate foi o desejo de criar super-soldados que motivou o surgimento dos “heróis”. O detalhe mórbido é que com apenas dez anos de vida, este selo da Marvel já necessita de um guia para explicar sua complexa cronologia e já tem personagens que devem ser esquecidos (veja Ultimate Adventures) e personagens que tem versões distintas demais quando passam de um escritor para outro (veja os Defensores na cronologia dos Supremos para saber do quê estou falando).

Culpar somente a DC Comics é um exagero.