Elric de Melniboné v2, Michael Moorcock (Generale, 2017)

Seria injustiça minha comparar “Elric de Melniboné” com os livros atuais de espada & magia, mas só é possível comparar com aquilo com conhecemos. As histórias de Elric presentes neste segundo volume são histórias que foram apresentadas em uma revista de contos e a lógica delas é esta: algo para o consumo rápido enquanto o autor busca um destino final para seu atormentado personagem.

A primeira parte do livro é “O navegante nos mares do destino”, dividido em três tramas “Navegando para o futuro”, “Navegando para o presente” e “Navegando para o passado”. Na primeira Elric é resgatado por um navio capitaneado por um cego – sutileza acerca do destino – e reúne-se com três aspectos de si mesmo – Erekosë, Corum e Hawkmoon – para enfrentar irmãos feiticeiros em uma ilha fora dos mundos conhecidos. Na segunda história, após ser deixado em uma praia à deriva, Elric encontra com o Conde Smiorgan e juntos tentam retornar ao seu próprio mundo através do Portal Rubro, não sem antes cruzar o caminho com outro melniboneano Saxif D’Aan e seu interesse na bela Vassliss. A história tem mais o tom de bruxo sequestra princesa por quem é apaixonado, mas em uma terra distante do sol. E por fim a última trama temos Elric e Smiorgan sendo sequestrados em alto mar pelo Duque Avan Astran que pretende conseguir o apoio de Elric para chegar à Cidade de R’Lin K’Ren A’a. Note a ideia implícita de Elric não dominar seu próprio destino.

A segunda parte do livro “O destino do lobo branco” é mais fraca. Primeiro “O sonho do Conde Aubec” parece apenas um prenúncio de algo a vir que necessita ser decifrado. Perfeito, saltemos então. “A cidade dos sonhos” é uma versão da primeira história publicada de Elric, quando ele retorna para Imrryn e leva uma frota invasora. Já a li uma meia dezena de vezes em vários formatos e só desta vez é que ficou gravado em mim que apesar do sucesso do roubo a frota foi escorraçada por dragões alados. Mas a cidade permaneceu ali. De resto é a trama do rei legítimo que retorna e encontra sua amada enfeitiçada e sob o domínio daquele que deixou no trono – Yyrkoon, seu primo e irmão de sua amada, Cymoril. “Enquanto os deuses riem” é uma aventura básica de RPG: Shaarilla, uma mulher alada que perdeu suas asas, convence Elric a roubar um livro místico, o Livros dos Deuses Mortos. De desenvolvimento bem previsível a trama se sobressai apenas por nos apresentar Mestre Mooglum de Elwher – uma corruptela da expressão em inglês “elsewhere”, lugar algum.

O quarto conto desta segunda parte é “A cidade que canta” é uma trama mais elaborada, mas perde porque necessita de uma continuação. Aqui a regente Yishana de Jharkor, que está associada ao feiticeiro Theleb K’aarna, se associa à Elric, dividindo com este também sua cama, para a ira do feiticeiro que os deixa em uma armadilha e foge para Pan Tang. É uma trama que deixa claro as dependências físicas e psicológicas de Elric em relação à sua espada mística Stormbringer e aos seus demônios-patronos, em especial Arioque.

A ideia de por Elric com um “convidado” permite que o melniboneano explique (parte de) suas motivações para o colega de jornada e, portanto, para o leitor, um esquema bem... limitado.

Importante por apresentar múltiplas versões de um mesmo personagem e o conceito de multiverso do personagem, assim como iniciar a trama do Campeão Eterno, da qual o sonho faz parte; o livro certamente seria um volume de meio em um arco maior, mas exagera na obviedade das tramas, e não consigo fugir da ideia de sessão de RPG com jogadores que tentam por demais dificultar a vida do mestre.

O terceiro volume desta série chegou a ser anunciado para 15 de abril de 2021 – e teve página na Amazon do Brasil – mas sempre apareceu como “não disponível”.

Elric de Melbinoné, v2. Generale/Évora, 2017. ISBN 978-85-8461-115-7.