Revival (66 | 53 | 46*) é um destes livros que a jornada de leitura é uma diversão sem fim, mas seu fim nos traumatiza de uma maneira indelineável. Diálogos perfeitos, cortantes; que parecem terem sidos pensados e refeitos à exaustão e então a tensão vai aumentando, aumentando até que explode em um final digno dos melhores livros de horror de todos os tempos. Somos cúmplices do personagem narrador, nos importamos com seu destino, com sua jornada. Vemos muito de nós refletidos ali.
Lançado em 11 de novembro de 2014, a trama conta a história de Jamie Morton e se inicia na década de 1960 quando ele tem seis anos e conhece o ministro Charles Jacobs. Jacobs substitui o pároco local que se aposentou e passa a trabalhar na pequena cidade da Nova Inglaterra. O reverendo influencia bastante o garoto, especialmente quando usando um aparelho rudimentar cura uma infecção na garganta do irmão de Jamie utilizando a eletricidade.
Mas um perversidade do destino faz com que Jacobs se afaste da cidade e ao longo da sua vida Jamie e Jacobs se encontram em diversas oportunidades, especialmente depois que consumido pela uso de drogas, Jamie também é salvo pelo ex-pároco quando estava em uma carreira de guitarrista de bandas que nunca “aconteceram” - o quê permite ao leitor uma busca no Spotify e encontrar uma playlist com a músicas que são nominalmente citadas no livro, quase todas tocadas por Jamie.
No entanto, a sua própria salvação faz com que Jamie passe a olhar com atenção para outros casos de cura de Jacobs e passa a surgir algumas dúvidas sobre a natureza destas curas.
Quais são os objetivos de Jacobs, porque alguém que perdeu a fé volta a usar o manto das igrejas para acobertar suas atividades?
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Confesso que em algum momento eu pensei em por que os personagens se incomodam com a natureza das curas alheias? Parecia apenas uma inveja relacionado ao fato que ora Jacobs usa a fé das pessoas, ora se afasta da fé.
A tragédia que alcança Jacobs o deixa amargo, um homem totalmente desprovido de fé. O que é um padrão de personagens na obra de Stephen King. Mesmo eu não sendo um grande conhecedor sou capaz de lembrar de ao menos dois personagens importantes que seguem este padrão (em “Salem’s” e no conto “A névoa”, mas me disseram que também há em “Carrie”, ainda que não lembre mais – sim, eu li!).
King não deixa claro os objetivos de Jacobs em nenhum momento – às vezes você imagina algo como uma ressurreição, dado o título – mas quando o fato ocorre vem com uma força espetacular e te atinge forte, deixando-nos sem fôlego!
O final do romance é algo que nos marca e certamente acompanhará o leitor ao longo de sua jornada.
Revival. Stephen King, ISBN 978-8581-053103. Suma, 2015. Tradução Michel Teixeira. 376 páginas.
(*) 66º livro de Stephen King, 53º romance e 46º publicado usando seu nome.