A trama se inicia em 1871 quando o inglês Montgomery Laughton, em decadência, passa a trabalhar para o recluso Doutor Moreau, que vive em uma pequena fazenda chamada Yaxaktun com sua filha, Carlota, então uma criança, e lá desenvolve uma pesquisa para um grande latifundiário da região de Yucatã, México, tencionando criar híbridos que seriam escravizados para trabalharem nas fazendas.
Laughton
se surpreende com a pesquisa, mas se torna um capataz eficiente,
ainda que alcoólatra. Gosta da tranquilidade do campo, enquanto
lentamente se cura de uma desilusão amorosa. Também se afeiçoa aos
híbridos, em especial Lupe e Cachito
que cumprem um
esquema bem semelhante ao escravizado que habitava a sede e brincava
com os filhos do senhor, tendo que estes híbridos tem uma relação de quase irmão com Carlota. Há aqui uma crítica sutil acerca do inglês que
vê algo exótico, mas crê que poderá gerenciar os eventos,
controlando-os para gerar lucros.
Os anos se passam e em 1877, com Carlota já moça e prestes a ser apresentada à sociedade, Moreau vê as verbas para suas pesquisas minguarem diante de uma aparente ausência de resultados e decide que o caminho talvez seja usar sua filha para seduzir o filho de seu patrono, de modo a garantir que um possível enlace resolva seu problema financeiro.
De pano de fundo a revolta de descendentes mais, a visão que o latifundiário mexicano tem sobre seus empregados e seus esforços para criar uma raça de escravizados que jamais questionaria seus desmandos e os paralelos com o romance original, um clássico da ficção especulativa. Carlota Moreau é apresentada como uma “sinhazinha” e tem todos os predicados para tanto: geniosa e apaixonada, mas gentil e doce. Percebe o jogo de seu pai, mas aceita como uma maneira de manter seu status e dar vazão à sua visão de mundo. Aos poucos é desconstruída e amadurece, revelando uma personagem apaixonante, apaixonada e envolvente.
Silvia Moreno-Garcia escreve um livro romântico de fato. Com capítulos que se alternam entre Montgomery e Carlota, às vezes se complementando de forma genial, a história é bem conduzida ainda que seja um pouco mais doce do que seu outro livro “Gótico Mexicano”. Mas o esquema é bem semelhante: heroína forte (ou em processo de fortalecimento) que é agente ativo da história que é narrada e não apenas uma donzela em apuros. As críticas sociais sobre criar uma raça de escravos; assim como as críticas filosóficas são coesas com o material presente e não fazem feio.
Escrito também se pensando no visual é um livro perfeito para adaptação para cinema com um bom nível de romance e aventura, além das críticas já citads nas entrelinhas. Aguardo a adaptação.