A
posse de uma informação privilegiada é a fonte de tramas das mais
diversas.
Em
Era uma vez no oeste filme essencial de Sergio Leone o
fio condutor das ações de parte dos personagens é a posse de uma
informação privilegiada. No entanto, há ali um personagem que está
à margem dos acontecimentos preocupado apenas com uma vingança
pessoal. Ele é uma variável aleatória na trama: ninguém sabe por
que está ali, além de, é claro, estabelecer o conflito!
The
Collapsing Empire (ISBN 978-1-5098-3507-2, TOR, 2017) é
basicamente uma trama semelhante: há personagens que tem
conhecimento de uma informação e tentam tirar proveito da situação.
O
resto é a apresentação dos personagens para uma nova série de
ficção e os diálogos afiados de Scalzi.
[Trama]
O
Império foi estabelecido em cima de princípios básicos.
Cada família tem a exclusividade da produção de um bem e vende
para as outras famílias, que habitam outros sistemas. Para navegar
no Império há o conceito do “Flow”, uma adaptação
interessante do conceito geral de buraco de minhoca. Aqui há uma
abertura estável em algum lugar e a nave entra em uma imensidão de
espaço, no qual trafega até encontrar uma abertura de saída.
Diferente de outros conceitos, uma viagem aqui demora meses.
O
centro de poder do Império, a estação planeta Hub é o
local no universo onde todos os “streams” do “Flow”
surgem – todos os caminhos levam a Roma. A Casa Wu controla
Hub, portanto o Império.
Uma
mudança destes streams levaria, por extensão, a uma drástica
mudança de poder.
Quando
a trama começa estamos assistindo aos últimos momentos do Emperox
Attavio VI, que deixa como herdeira Cardenia Wu, sua filha
que não foi treinada para o trono. Ela é herdeira apenas porque seu
irmão mais velho morreu antes de chegar ao poder.
Enquanto
lemos sobre esta transição vemos o desenrolar de uma trama em
“End”, o planeta e sistema mais afastado de Hub. Kiva
Lagos da Casa Lagos leva seu produto ao planeta apenas
para encontrá-lo em um processo de rebelião. Lá Lord Ghreni
da Casa Nohamapetan, está influenciando o Duque local
para resistir aos rebeldes, se apossar de recursos às vezes de forma
ilegítima e comprar armas. Kiva fica irritada com a tomada de sua
mercadoria, mas sai do planeta dias depois, levando uma série de
nobres capazes de pagar o preço para saírem de um local em
ebulição. Leva entre seus passageiros Marce Claremont, filho
do Conde de Claremont, um físico, como seu pai, que estava em
End para estudar o Flow.
A
Casa Nohamapetan tem uma série de interesses principais e
secundários na história! Seria Nadesha Nohamapetan, irmã
de Ghreni, a esposa do falecido irmão de Cardenia, que
se viu privada de estar no poder pelo imponderável. Ainda assim os
Nohamapetan tem uma carta da manga, eles sabem da instabilidade do
Flow, assim como Marce que rumou para Hub para notificar o Emperox.
Marce
vai a Hub para falar com Attavio VI, que contratou a pesquisa ao seu
pai, e encontra Cardenia. Será que a nova Emperox dará ouvidos à
informação do jovem? Ao será que mesmo este Emperox já estará
morta, alvo de atentados políticos dos rebeldes no distante End?
[Crítica]
John
Scalzi é um escritor hábil em contar histórias, mas a leitura de
vários romances do autor mostra esquemas narrativas algo que
previsíveis. Seu prelúdio e o formato de dividir o livro em partes
que se encerram com plot twists são previsíveis.
A
história funciona bem, mas lentamente. Começa sem empolgar, não
ganha velocidade no meio, mas então eis que surgem os plots
twists e tudo muda, tornando o leitor um consumidor salivante das
páginas.
Concebido
como o “Livro I” de uma série The Collapsing Empire
serve como apresentação dos personagens e da situação. Cadernia,
Marce e Kiva tem muito a contar, ainda que os leitores de sci-fi
devam estranhar uma personagem feminina com uma sexualidade tão
pouco contida como Kiva. Ele é o reflexo de Games of Thrones
na ficção e falo da série de TV e não dos livros: sexo às vezes
gratuito, sem nexo com os eventos usado apenas para cativar uma parte
da audiência. Aqui fica o senão que Scalzi não faz narrativa dos
intercursos sexuais, mas ao menos o leitor não poderá reclamar
quando for adaptado para a TV dentro de alguns anos: as cenas estavam
no livro, ao contrário de 2/3 das cenas de Game of Thrones.
Evidente
que toda a estrutura de Casas, da intriga entre elas, do comércio,
do uso da religião e de um buraco no espaço chamado “Flow” - a
especiaria deve fluir – evoca outra obra de ficção, Duna.
Mas que fique registrado: apenas evoca. Os tempos são outros e
Scalzi está mais preocupado em construir uma série rentável do quê
beber demais em uma fonte óbvia, o quê poderia gerar muitas
críticas. A questão da religião, algo tão presente em Duna é
pouco trabalhada aqui e não há sequências gigantescas em planetas
inóspitos.
Vale
a diversão e é um bom investimento para leitores iniciantes.
Nota:
6,5/10.
Originalmente publicada em 03/07/2017.
The Interdependency series |
Vol |
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1 |
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3 |
2019 |