Abbott (2018), Saladin Ahmed

Em Detroit 1972, Elena Abbott é uma repórter negra que atualmente é persona non grata nos meios policiais por matérias recentes e começa a investigar uma série de assassinatos ritualísticos que os policiais querem por na conta do movimento dos Direitos Civis, mas seguindo o fio das minorias assassinadas nos rituais, ela se depara com uma nova realidade.

Criada por Saladin Ahmed, autor de The Throne of the Crescent Moon (2013) e quadrinhos para a Marvel Comics, a série em cinco números (2018), depois reunida em um volume encadernado da Boom! Studios é divertida e deixa a impressão de que o autor está narrando uma novela de fantasia e apenas apresentou os personagens. Abbott é chamada em vários momentos de “lightbringer” ou “the light” e é o contraponto a uma organização chamada “The Umbra”. 

É orientada por um místico misterioso e disfarçado de hippie dona de loja de produtos exóticos chamado Sebastian – “Under the sea”? - que apresenta a ela novas questões e há problemas relacionados a sentimentos e sexualidade: seu primeiro amor desapareceu e surge em vários momentos para ela dizendo-se preso em algum nível pela Umbra; seu ex-marido é um policial que (realmente) a auxilia em vários momentos e há uma amiga especial. Há também o legítimo relacionamento jornalístico entre ela e seu editor, que não deixa de destilar os preconceitos típicos de homens velhos daquele período.

Bem narrado e com uma boa condução, “Abbott” escorrega quando o vilão se apresenta: caso ele não fosse tão prepotente, muito da ignorância continuaria e não seria descoberto. No processo, desconfiamos que há muito da “jornada do herói” na aventura e fica claro que o quadrinho é parte de um processo novo na mídia quadrinhos, mas antigo na narrativa literária: personagens surgem não como séries mensais, mas em um processo semelhante a conto, noveletta e, finalmente, novela.

Creio que o perfil dos personagens apresentados é legítimo e interessante e espero que Elena Abbott continue por aí de tempos em tempos, como uma boa história/personagem que a gente retoma quando tem algo para dizer – em tempo: quando escrevo estas linhas já houve em segunda série em 2020/2021, chamada “Abbott: 1973”.

Aconselho. Texto de Saladin Ahmed, arte de Sami Kivelä e cores de Jason Wordie.