A volta

O leitor não precisa saber que universo ficcional está lendo. A maioria absoluta trata todas as revistas de uma mesma editora como parte de um mesmo universo ficcional.

Há pouco casos onde a história começa com “Enquanto isso na Terra-2”. Normalmente é “Enquanto isso...” ou “Em outra Terra”.

Às vezes fica-se com a impressão errada, de que o autor quer criar uma história confusa envolvendo dimensões paralelas. Normalmente ele quer apenas situar a ação para explicar as diferenças de cenário.

Eu desenvolvo um roteiro que se passa em uma dimensão que houve uma espécie de praga zumbificante. Em meus arquivos mentais me refiro àquela dimensão como “Terra BR Z2009”, pois desenvolvo outros esboços que se passam em dimensões diferentes daquela. Para mim a “Terra BR Z2009” será sempre a Terra que se passam as história da série “O mundo”, um planeta em que houve um erro em um encanto e aconteceu várias modificações.

A modificação mais expressiva é a praga zumbificante no Oriente Médio e na América do Norte. A primeira trama tem treze páginas e um colega já desenhou seis – uma média de 1 página a cada dois meses :) - e aguardo ansiosamente a conclusão da arte para fazer balões de texto e arte-final. Fiquem com a arte a lápis da página 1.


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Decisões tomadas com base em universos ficcionais divididos em selos podem ser traumáticas. Jessica Jones surgiu na série Alias do selo MAX da Marvel Comics. É um quadrinho experimental em narrativa e com história acima da média. Nesta série Brian Michael Bendis & Michael Gaydos criaram uma personagem que havia sido uma super-heróina mas abandonou a carreira, tornando-se uma detetive particular com psique auto-destrutiva.

Apesar de ser do selo MAX a série fazia retrocontinuidade com o Universo Marvel padrão e usava os personagens estabelecidos lá. Usou por exemplo Luke Cage, que a editora reinventou e criou um vínculo afetivo com Jessica. Ao final de Alias a Marvel criou a série The Pulse que trazia Jessica mais próxima do Universo Marvel, trabalhando como consultora no Clarim Diário e tendo uma filha de Cage, que se tornou um popular novo vingador em função da exposição.

No fim se analisa que a série foi publicada no MAX apenas para receber atenção e pela índole da personagem principal. Jessica bebia, era depressiva e tinha relações não muito apresentáveis ao público infanto-juvenil clássico da editora. Seria mais fácil fechar o pacote, afastando-a da continuidade padrão e tornar mais pesado isto ou aquilo, tornando a obra um pretenso “quadrinho adulto”. Venderia bem e quando fosse necessário a personagem bateria ponto no universo tradicional – chamado de Terra-616 em referência a junho de 1.961.

Alias já foi publicado no Brasil em Marvel Max e Marvel Max Especial da Panini. A editora acabou de lançar uma edição encadernada com o primeiro ano da obra. As tramas são excelentes mas servem apenas para um público diferenciado. Há pouca ação, muitos closes, texto verborrágico e nem todos devem gostar do material. Compre mas antes experimente!

Hoje o casal Jessica & Luke está numa posição confortável dentro do Universo Marvel padrão. Tem a simpatia do fandom e ainda são membros dos Novos Vingadores mesmo depois dos imbróglios de Invasão Secreta, Reinado Sombrio e O cerco.

O trauma fica por conta que apesar de Alias, The Pulse e Novos Vingadores ter o mesmíssimo escritor não parece ser o mesmíssimo personagem. Jessica mudou, como deveria mudar os personagens de quadrinhos, para não parece ter evoluído. Voltaria a ela noutro momento.

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Monstro do Pântano surgiu em uma antologia de terror da DC Comics e depois ganhou série própria nos anos 1.970. Com o sucesso de um filme de Wes Craven (A hora do pesadelo, Pânico) a série retomou nos anos 1.980 com o nome “The Saga of Swamp Thing” e ficou famosa por ter sido escrita por Alan Moore, marcando o início da invasão britânica.

Em 1.992 a DC Comics lançou o selo Vertigo para publicar quadrinhos autorais (cujos direitos pertencem aos autores) e quadrinhos adultos com seus personagens. Criou um sub-universo às margens do universo tradicional e o povoou com Monstro do Pântano, Sandman e seus Perpétuos, John Constantine, Shade, Orquídea Negra (aqui).

Desde esta época estes personagens são pouco utilizados em quadrinhos padrão da DC. O quê não impede que Monstro do Pântano apareça em um poster do funeral do Superman e John Constantine seja personagem coadjuvante da série Stanley e seu monstro volume 2 (veja a capa ao lado) - por sinal o primeiro uso criativo que vi para o personagem em anos.

Dan Diddio, um dos editores chefes da DC, recentemente estabeleceu que todos os personagens criados no Universo DC devem retornar à ele. O primeiro personagem que foi afetado é o Monstro do Pântano e já se prevê a exceção de John Constantine, criado como coadjuvante de The Saga of Swamp Thing e personagem Vertigo com série de maior duração – mais de 250 números.

No caso de Sandman devemos lembrar que a série é “quase” fechada, mas usuou vários personagens que já haviam sido criados no universo padrão da editora. Entre eles Destino, As Bruxas e Matthew Cable, só para citar alguns (veja aqui).

A medida não pode ser completamente abrangente e tenta, na verdade, criar um interesse por vários personagens que estavam esquecidos e há tempos com séries que não resultam em nada como o Monstro do Pântano.

Diddio deveria aprender com Quesada em termos de publicidade.