Wild Cards v10: Double Solitaire (1992) de Melinda M Snodgrass

Escrevo isto em 16 de março de 2024 e ontem vi o lançamento do volume 33 de Wild Cards onde o editor e escritor da série George R R Martin faz questão de avisar que não é necessário ler os 32 livros anteriores para entender a trama. Bem… não era assim até o 11º volume que conclui o terceiro arco de histórias. As histórias ali eram uma continuidade narrativa que, ainda que não se concentrassem em um único personagem, tinham uma sequência que era sim, muito necessário, a leitura anterior.

Double solitaire” é uma novela que se passa ao mesmo tempo que o volume seguinte “Dealer’s Choice” e narra a viagem de Tachyon, agora em um corpo feminino e grávida, à Takis para onde seu neto se dirigiu com Durg e Kelly após roubar sua nave, a Baby

Este seria o livro seguinte a ser publicado pela Editora Leya quando o contrato foi rompido. A Suma informou em 2023, via rede social, que não tem planos para a publicação da história.

O romance é cheio de bons momentos como a dificuldade de Tachyon em provar quem é, a negativa de Fortunato em auxiliá-lo (não sem antes sugerir um ato sexual forçado para carregar os poderes do ás), assim como a tentativa do “Grande e Poderoso Tartaruga” em tirar casquinha em uma moça grávida, que foi estuprada e que, na verdade, é seu amigo. Melinda M. Snodgras constrói estes e outros momentos em que critica as questões de gêneros e ficam bem inseridos na trama, como quando em Takis, Tachyon se torna o herdeiro mas seu primo nega a ele o direito em função do corpo feminino – além de uma relação complexa de amor, ódio e desejo entre eles.

Apesar da negativa de Fortunato ele indica que Jube não é um curinga, mas um alienígena que é membro da NETWORK – uma extensa organização centrada em lucro e respeito a contratos – e após surpresas e negociações Tachyon segue para seu planeta de origem acompanhado de Mark Meadows e JayPoppinjayAckroyd. Entre as surpresas o fato que Zabb, primo de Tach, é piloto da Network e tem sua própria agenda, faz com que o leitor ao longo de todo o volume espere a traição.

Não sou fã de Mark Meadows, um ás que drogas distintas liberaram personalidades distintas, com poderes distintos, mas seu uso na trama é muito adequado, especialmente porque uma de suas personalidades é feminina, permitindo acesso ao ambiente em que Tach, agora Tisiane, fica confinada. Jay Ackroyd é usado para narrar os costumes de Takis e num determinado momento, fugir de uma ameaça. Com isto temos um longo perfil da sociedade takisiana.

Melinda Snodgrass escreve bem e nos dá a angústia da gravidez e da urgência do médico em retornar ao seu corpo, especialmente quando se aproxima o parto. Em alguns momentos as relações são abruptamente cortadas. Drª Cody, amante humana de Tech tem boa participação no início, mas é reduzida a nota de rodapé, assim como toda a trama da Ilha Rox. Fora um sequestro de Tachyon/Kelly pelas forças de segurança com o objetivo de conseguir informações, não há desenvolvimento maior.

Já em Takis o desenvolvimento é adequado. Blaise, Durge e Kelly (ela no corpo de Tach) se alinham a uma casa rival e logo o rapaz se torna RAIYIS – o regente da casa – apesar de ser considerado uma abominação e ficar claro que após a derrota da casa adversária eles derrubarão o próprio líder.

O fim é bem legal e faz jus à série, tornando-se de longe um dos melhores episódios até então – até porque é um romance de escritor único e não uma coleção de contos contados em sequência ou agrupadas.

No próximo volume retomamos nossa atenção à Ilha Roxy para encerrar este ciclo. Veja aqui o review do volume anterior, Guerra aos curingas.

Editado por George R R Martin.

ISBN 978-1-250-16813-9.