Alguns historiadores, entre eles o Eduardo Bueno, relatam que o Brasil tem uma história rica, capaz de servir de subsídios para qualquer produção cultural. O próprio formato do folhetim diário brasileiro por excelência, a novela, impressiona; mas falha em não se estender sobre a mitologia e se apropriar dela. Há exceções – dezenas – mas ainda muito espaçadas e tímidas.
Shiko, artista paraibano, foi duplamente ousado. Primeiro, fugiu neste momento do financiamento coletivo, algo bem comum e que não denigre nenhum projeto. Fez produção própria e ofereceu em suas redes sociais o quê o vincula diretamente ao projeto.
Em segundo lugar ele se apropria de fatos para produzir um belíssimo álbum a aquarela. Há um impacto visual em tudo que ele mostra!
Eu conheço – hoje em 2021! - “vendas” como a que está na página de abertura. Conheço aquelas arquiteturas, aquelas justificativas e pessoas que agiram daquela maneira e com aquelas escolhas morais, ainda que por uma questão de idade não conheça sobreviventes do cangaço.
O álbum abre com um relato sobre um assassino de cangaceiros e o fato de que ele não se permitia torturar seus capturados; dando a entender que isto (a tortura) seria algo menos nobre. Então há um corte para Pariconha, Alagoas em 1921 onde uma fazenda é invadida por um bando em uma sequência que se assemelha a história de uma das protagonistas. O sertão tem disto: em suas diferenças há uma grande semelhança.
Apesar de perder a família, a moça é resgatada e não se furta a sua vingança! E os leitores são presenteados com outra narrativa e belíssima páginas que nos envolvem e realmente nos transportam para o local dos fatos iniciando a construção de uma grande saga.
Shiko faz sutis críticas – ou talvez nem tanto – mostrando que ao povo embrutecido do sertão a opção da tortura não condiz com a sua natureza. Era uma trajetória de vida ou morte e nada além disto. Quem tortura é um covarde! E uma organização de permite que isto ocorra, está estabelecida em uma profunda falha moral.
Em seguida mostra uma visão nada romântica do cangaceiro, um homem violento de fortes atitudes, quase nenhuma justa.
Com arte e narrativas de primeiro mundo, “Carniça e a Blindagem Mística, 1: É bonito o meu punhal” tem o andamento das grandes obras em quadrinhos. O álbum é o primeiro de uma série e Shiko tem uma loja em <http://shiko.lombra.org/>. Visite!