“O Efeito He-Man: como a indústria dos brinquedos moldou sua infância pelo consumo” de Brian “Box” Brown é um livro em formato de quadrinhos que narra como a publicidade americana interferiu em questões de Estado (1ª Guerra Mundial, a questão da Guatemala), comportamento (fumo, sufragistas, questões raciais) e a padronização dos gostos de consumo ao logo do século XX, mas em especial a partir do início dos anos 1.980 incutiu em crianças o desejo de consumo através de desenhos animados – que não passavam de longos comerciais dos produtos da indústria de entretenimento – e como isto se reflete na criação de um saudosismo artificial, seja pela ideia de adquirir produtos que na infância não foi possível (ou que foram perdidos), seja pela ideia de que as versões que foram apresentadas naquele período é que eram as perfeitas.
Com isso o livro resgata uma série de questões da indústria de entretenimento como o domínio público da primeira versão de Mickey, a história de sucesso de Star Wars com a indústria dos brinquedos e sua aquisição pela gigantesca Disney e a divertida relação “G.I. Joe”/”Transformes” assim como sua exploração nas animações: quando lançados havia uma proibição de comerciais em forma de desenho, mas uma conjunção entre o governo Reagan (a partir de 1.980), nova regulação da agência de publicidade e a Marvel Comics permitiu o sucesso. Em teoria os desenhos, no primeiro momento, faziam comerciais dos quadrinhos.
Ao fim o autor escolhe o visual de He-Man (um boneco criado após o projeto de uma linha de brinquedos que explorava “Conan, o bárbaro” ter sido vetado pela violência do filme) como simbólico e acompanha os lançamento desta linha e seus sucessivos relançamentos. Ao final aponta como a absorvição de marcas como “Star Wars” por grandes conglomerados apenas torna mais intensa as questões de falsa nostalgia e o questionamento de fãs antigas sobre questões raciais. Algo que pode ser visto nas polêmicas decorrente do caso do acordo BBC/Disney referente à “Doctor Who” (e não citado no livro). Um grande conglomerado absorve uma marca/produto – aqui apenas direitos de distribuição fora do Reino Unido – e a “contamina” com sua “agenda”.
É um livro rico em questionamentos e apesar de não ter relação direta alguma deve ser bem apreciado por espectadores da série “Brinquedos que marcaram época” (Netflix, 2017).
Editora Mino. ISBN 978-6589-767-476.
Setembro de 2023. 272 pgs.