Estação Perdido de China Miéville [Boitempo, 2016]

Obra-prima de China Miéville “Estação Perdido” é o primeiro livro da série Bas-Lag e apresenta um cenário pós revolução industrial, infestado de cidades imundas, seres que de alguma forma poderiam ser compreendidos como místicos – vodyanois e khepris – mas são apenas outras espécies que habitam Bas-Lag.

O romance se passa em Nova Crobuzon, onde o cientista Grimnebulin é contratado pelo garuda Yagharek pelo que, usando a “energia de crise” possa restaurar sua habilidade de voar - suas asas foram mutilados. Para alterar a natureza Yagharek dispõe de grandes recursos o quê corrompe o cientista. Este, por sua vez vive um romance secreto com a artista boêmia Lin, uma khepri, que é contratada por um chefe da rede de crimes de Crobuzon para fazer uma estátua – os khepris expelem uma massa por seu crânio-escaravelho que usam para fazer obras de arte.

Mas o experimento de Grimnebulin sai do controle e uma mariposa-libadora passa a se alimentar de uma droga sintética e envolve o cientista e os seus em uma missão para detê-la antes que o caos atinja completamente a cidade!

Com longas descrições e sem pressa em narrar aquilo que chamamos de “ação”, nota-se claramente que Miéville vai pondo todos os elementos em determinados lugares e há mais três ou quatro camadas de tramas e complexidades. Isto toma ao menos um terço da obra e o estilo do autor é bem denso, como esta passagem:

Começou a chover de repente. Vagarosas, enormes gotas caíam indolentes e se despedaçavam, tão espessas e mornas como pus. A noite estava abafada, e as nuvens glutinosas de chuva a tornavam ainda mais. Isaac que trabalhava rápido, sentia seus dedos ineptos, grandes demais.

Havia uma lenta sensação de arrastamento, um peso que caía sobre o espírito e começava a saturar os ossos. Uma sensação do insólito, do temeroso e do secreto, que se disseminava para o alto, como se viesse de dentro, onda revoltosa de nanquim nas profundezas da mente.”

As descrições de Nova Crobuzon, suas catedrais, seus povos e mesmo seres novos como o “Conselho dos Constructos” são ricas, mas certamente o leitor pode sofre um pouco com o ritmo. As coisas acontecem no ritmo de Miéville, sem pressa e sem vontade alguma de correr, ainda não vejo o porquê de o leitor ter que correr, também. Além disto há o forte discurso social e os paralelos com nossa realidade.

Aconselho muito que leia! Se está cansativo, denso; leia! Leia em seu tempo. Eu mesmo demorei anos para ler, fazendo em blocos e me permitindo degustar tudo.

A série tem mais dois volumes, “A Cicatriz” e “Conselho de ferro” que até abril de 2023 estão inéditos no Brasil – e segundo o perfil da editora no Twitter ainda sem previsão de lançamento neste ano.

Boitempo, 2016. ISBN 978-8575-594636.