“Pulp” é um termo criado em referência à polpa da madeira. Produzia um material mais barato que poderia ser usado na indústria de massas e originou as revistas de contos (“pulp fiction”) que eram baratas, impressas aos milhares e haviam para todos os gostos a saber: western, espionagem, crimes, mistérios, ficção científica, boxe, espada e magia, aventura e erótica – entre outros.
“Pulp” (ISBN 978-65-89737-05-6, Editora Mino, 2021) é uma “original graphic novel” (está escrito na edição nacional, amigos) escrita pelo autor Ed Brubaker, desenhada pelo Sean Phillips e colorida por Jacob Phillips. É um conto amargo de velhice e marca o início da parceria entre a editora nacional e a dupla. Apesar da publicação de dois volumes da série “Criminal” no Brasil há alguns anos pela Panini Comics, as publicações autorais de Ed Brubaker ainda não tem uma grande volume de material publicado por aqui; algo que a Mino pretende corrigir.
Sou um fã do Brubaker desde que li um excelente perfil dele na revista Wizard/Wizmania (Panini), mas confesso que foi exatamente em seu período nos títulos mutantes que os abandonei. A culpa nem foi dele: não li o material! Mas li todo o seu período em Capitão América e vi algo bem adequado e que se retroalimentava. Também acompanho a série Friday desde o lançamento e só tenho elogios!
O sucesso em Capitão América veio por vários motivos, um deles foi o aproveitamento adequado de “Bucky” e sua transformação em “Soldado Invernal”. Brubaker evidentemente não ficou satisfeito com os valores que recebeu do uso destes criações em outras mídias. Se, na vida real, sobreviver a um afogamento o fez pensar em deixar alguns recursos para a família, nos quadrinhos os personagens se tornam frios cínicos porque sentem-se finitos; um reflexo do autor.
Assim é Max Winter, escritor de revistas pulp de western, ele se vê substituído em fevereiro de 1939 (Grande Depressão era uma memória bem palpável) primeiro por redução de salário e em seguida, jovens que recebem metade de seu salário reduzido. Para piorar descobre que o personagem que escreve as aventuras, baseado em suas memórias no Velho Oeste, não pertence a ele; mas à editora! Diálogos mostram que Brubaker está criticando a postura de todos na indústria; inclusive dos autores que crer serem ingênuos.
Surge então mais uma camada: a ascensão nazifascista na América e o silêncio oportunista das corporações, além do envolvimento destas corporações com aquele discurso. Preocupado, Max só deseja levar sua companheira para um lugar tranquilo e aproveitar os poucos anos que seguem. Mas a miséria relativa o faz ser tentado a um “último trabalho” – um mito não só neste tipo de ficção, mas na obra do Brubaker, vide Criminals – associado a um “fantasma do passado”.
“Pulp” é uma obra amarga, mas como gosto de ressaltar, tem o sabor das obras autocontidas e que não é necessário que se compreenda ou que se leia nada mais do quê está ali. Não é uma obra-prima porque é uma “pulp fiction”, mas para mim é um livro essencial! Divertido, capaz de passar as mensagens que deseja e importante por marcar uma visão de mundo e pessoal.
Brubaker abandonou as grandes editoras e partiu para a produção pessoal. Não adianta reclamar infinitamente das grandes editoras. Temos que romper com elas! Romper com o errado! Romper com a aceitação ao discurso nazifascista! Temos que perceber que somos os responsáveis por nosso destino!
Não é uma obra-prima, mas é uma obra perfeita!