1971 começou como
terminou o ano anterior, muitas aventuras queriam mostrar os
empresários como estúpidos gananciosos que não se importavam com a
poluição, e como já vimos não raro eram alienígenas.
A edição #87
trouxe mais um exemplo na confusa trama “Batman-- King of the
world”, uma trama especialmente bizarra. Dividida em duas
partes a trama peca por atirar em várias direções e não se
preocupar em contar uma história com início, meio e fim. Na
primeira parte Batman & Gavião Negro são
dominados mentalmente por robôs gigantescos e alienígenas no Peru.
Era mês de visita de Zatanna (com cartola e meia arrastão) e
os heróis enfrentam os robôs, que enlouqueceram o homem-morcego que
por sua vez exige a morte dos colegas.
Resolvido a primeira
parte na página 15 da edição – lembre-se que a média era 21
páginas – Lanterna Verde, Flash, Zatanna e
Elektron vão para Cam-Nam-Lao (“a planet once
dominated by highly competitive business corporations”) e lá
enfrentam os Heróis de Angor, em um primeiro
momento equivalentes genéricos dos heróis da Liga (Jack B.
Quick, um velocista; Blue Jay, um humano em tamanho
miniaturizado e com asas; Silver Sorceress, uma feiticeira e
Wandjina, o deus aborígene australiano das chuvas), mas uma
análise mais apurada nos mostra uma versão dos Vingadores, a
equipe de heróis da editora rival.
Acreditando que a outra
equipe é responsável pelos robôs há uma batalha, mas o fato de
que Zatanna se preocupa com Blue Jay, ferido, faz com que os Heróis
de Angor e a Liga encerrem a questão. Por Mike Friedrich,
Dick Dillin & Joe Giella.
A edição #88
(março) trouxe “The Last Survivors of Earth!” onde uma
nave vinda de Mu cria ameaças ligadas ao clima. A Liga falha
em impedir estas ameaças, mas seres humanos comuns obtêm sucesso,
mostrando que todos são especiais. Se a história em si não é
muito significativa, Friedrich põe um ponto final do romance de
Canário Negro & Batman, fazendo a moça dizer que o vê
como um irmão e quem a atraia realmente era o Arqueiro Verde.
“The most
dangerous dreams of all!” (#89, maio) traz a história
do escritor que sonha com os enredos de seus textos e rompe a
barreira entre realidade e fantasia, pondo os heróis em risco.
Apesar de um bom plot geral o desenvolvimento das histórias
escritas por Friedrich era bem ruim, por um lado distante do padrão
de bem versus mal, mas por outro, também usando e abusando de
soluções deus ex machina.
“Plague of the pale
people” (#90, junho) mostra uma revolta das “pale
people” no reino submarino de Aquaman. O príncipe Nebeur
usa um gás criado pelos homens da superfície para fazer frente à
Aquaman e seus amigos, mas a história ruma novamente para o conflito
entre homem e a poluição e sobre a importância das pessoas comuns.
Nesta altura eu já sinto falta dos conflitos maniqueístas padrão
da indústria.
Esta falta não é
suprida com o encontro da Liga & Sociedade da Justiça
naquele ano. Justice League of America #91-92 (ago e set/1971)
apresenta “Earth the monster-maker” e “Only someone
who is unique to both Earths...” um dos piores encontros de
verão que já li (veja o review aqui).
Produzido pela equipe
padrão da série, vale como curiosidade o fato que Kal-El e
Kal-L eram retratados com a mesma fisionomia, sem nenhuma
grande diferença. Outro fator interessante é que o Robin da
Terra-1 (a “nossa” Terra) ganhou um novo uniforme, mas os meses
fizeram que esta variação se tornasse o terceiro uniforme do seu
equivalente na Terra-2.
A edição #93
(out-nov/1971) é um Giant Size que traz o reprint de
Riddle of the Robot Justice League (#13, ago/1962) e
Journey in the micro world (#18, mar/1963), ambas por
Gardner Fox, Mike Sekowski e Bernard Sachs.
Em seguida temos “Where
strikes Demonfang?” (#94, nov) por Mike Friedrich, Dick Dillin
e Joe Giella.com algumas páginas com arte de Neal Adams. É,
na verdade, um protótipo do tie-in moderno. Aqui tramas que
estão ocorrendo em Batman se estendem para a série da Liga quando o
Sensei, líder da Liga dos Assassinos, envia M'Naku e
em seguida o arqueiro Merlyn para eliminar o homem-morcego. Ao
mesmo tempo, Desafiador que tinha uma pista do possível
crime, domina Aquaman e tenta auxiliar a equipe, mas
evidentemente é descoberto pelo maior detetive da DC Comics.
O ano termina (#95,
dez) com outra história de conteúdo social quando um soldado negro
retorna da guerra e não encontra uma sociedade que o recebe de
portas abertas. Mutante (olha aí, um mutante na DC) desenvolve o
poder de controle de massas pela voz, torna-se um cantor típico da
geração paz & amor, mas erros de avaliação o fazem enviar
pessoas comuns contra os heróis. Percebendo seu erro, ordena que a
turba dirija o ódio a ele e ferido, perde seu poder. Nesta época
Friedrich já usava a última página para evidenciar a trama do
número seguinte, algo que fez diversas vezes durante o ano. Arte de
Dillin e Giella.
De um modo geral o melhor
do ano seria a criação dos Heróis de Angor, que só teriam
realmente importância para as tramas da Liga dezesseis anos depois
na série Justice League de Keith Giffen, JM
DeMatteis e Kevin Maguire e o tie-in com as tramas
de Detective Comics/Batman e Brave and the Bold (a
edição #94). De resto muitas tramas de apelo social dispostas a
evidenciar as injustiças, a falta de preocupação dos empresários
com a poluição e que, apesar de seu caráter dúbio, o ser humano
comum é capaz de escolher o bem da maioria.
Sinceramente Friedrich
não explorava o potencial do grupo como força de combate à grandes
ameaças, como Os Vingadores da Marvel, que também tinham tramas de
caráter humanista, mas rendiam-se facilmente à ação no padrão
Marvel.
The Satellite Years
|
Ano
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Edições
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1970
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1971
|
#87-95
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