As repetições, são,
é claro, maneiras de estabelecer uma comunicação para com todos os
leitores, tanto aqueles que compraram todas as edições, como para
aqueles que compraram pela primeira vez.
Elric, um homem
exilado, está em um bar, um grupo contrata-o para um feito
extraordinário, que em geral tem relação com seu passado que vive
teimando em assombrá-lo. No caminho vive aventuras, realiza
feitiços, mas normalmente seu caráter o põe em cheque em diversos
momentos e sem uma inclinação natural para herói, torna-se não um
vilão, mas um anti-herói, capaz de fazer escolhas que beneficiariam
a ele, e não raro somente a ele. A maior lição que se fica é que
ao se permitir manipular o oculto, Elric torna-se um títere nas mãos
do oculto.
De um modo geral, o
personagem de Michael Moorcock ajudou a cimentar e construir a
essência do anti-herói, coisa que Robert E Howard já havia
avançado bastante no início do século nos EUA. Suas histórias em
reinos distantes e, em geral, bastante tridimensionais ajudou a
cimentar a fantasia de aventura em pé de igualdade com Edgar Rice
Burroughs. Ao mesmo tempo Moorcock, certamente impregnado por
comparações à O senhor dos anéis de Tolkien decide
fazer narrativas curtas, seja pela mídia no qual publicava seus
contos, seja por que realmente não tinha paciência para escrever
livros longos, cheios de passagens desimportantes.
Lembro de Mike
Mayers, comediante responsável por Austin Powers, uma
paródia de James Bond, explicar matematicamente em um
documentário como era construído um filme de 007. Ele
próprio satirizava a fórmula fácil que estava oferecendo ao
documentarista, assim como Moorcock parece rir do leitor seguindo a
fórmula também fácil do “era uma noite escura e tempestuosa
em uma taverna no canto oeste dos reinos selvagens e homens de poder
vieram a ter com o amargurado Elric”. Moorcock, diferente de
Mayers e dos produtores de 007, consegue criar boas histórias
partindo de um princípio quase sempre idêntico.
[A trama]
Tjhe stealer of souls (1962, publicado em Science Fantasy #51, fev) se passa cerca de quatro anos
após The dreaming city, Elric e, por extensão, Mooglum são
contratados por comerciantes para eliminar Nikorn de Ilmar,
cujas estratégias de negócios estariam prejudicando-os. Elric
aceita apenas quando o feiticeiro Theleb K'Aarna, que protege
o comerciante, é mencionado. Este último, por sua vez, está
apaixonado por Yishanna, rainha de um reino distante, que
havia sido amante de Elric três anos antes. Derrotar Elric, seria
para Theleb uma forma de ganhar a afeição da rainha e provar seu
valor para seu empregador.
Elric reencontra as
forças de Imrryr e Dyvim Tvar, que com alguma
relutância aceita auxiliá-lo. K'Aarna invoca um demônio que não
permite que Stormbringer sugue sua essência, alimentando, no
processo, o príncipe almodiçoado. O processo na verdade é
invertido e Elric tomba, é feito prisioneiro e tem sua espada
retida.
Mas Nikorn,
considerando que o príncipe não é uma ameaça o liberta. Fraco e à
beira da morte, Elric envia Mooglum para um acordo secreto com
Yishanna, o quê lhe permite retomar a sua espada.
Reenergizado, Elric
ataca física e misticamente Theleb, que morre na batalha de tomada
do castelo. No processo, infelizmente, Dyvin Tvar sucumbe,
concretizando a tendência de que o príncipe albino é uma maldição
a todos que o rodeiam.
Mas o detalhe pouco
sutil fica por conta de Nikorn, a quem Elric tinha um débito de vida
– a sua própria. Elric se recusa a matá-lo, mas é controlado por
Stormbringer que assassina o comerciante. Note que apesar da
ambiguidade de Elric, ele realmente sofre pelo assassínio de Nikorn.
A aventura termina com
Elric e Mooglum juntos com a Rainha Yishanna, fazendo-nos supor da
razão de que ela entregou a espada para o ex-amante.