Tenho um certo horror a
apêndices e esta é a sensação que fica ao ler Messias de Duna
de Frank Herbert (Tradução Maria do Carmo
Zanini, Editora Aleph, 2012, ISBN 978-85-7657-116-2): ele é
um apêndice de Duna (veja aqui).
Messias de Duna
(Dune Messiah) é o segundo livro de uma série de seis volumes
escritos por Frank Herbert. Após a morte do autor a série teve
retrocontinuidade em tramas escritas por Brian Herbert, filho
de Frank, e por Kevin J. Anderson. A história de Dune Messiah
foi serializada na revista Galaxy em 1.969 antes de ser
publicada no formato livro, assim como a história de Children of
Dune, o livro seguinte.
A trama principal deste
livro é sobre uma conspiração da Guilda, dos Fremen
e das Bene Gesserit contra o Imperador Muad'Dib, Paul
Atreides. Não há um detalhe inovador nisso, nem com a
introdução do ghola de Duncan Idaho, chamado Hyat.
Explico: o ghola é a carne reanimada de alguém morto. Durante o
livro surge e permanece a tensão que Hyat irá trair Paul, mas há o
choque das quebras de destinos. Mesmo lendo o futuro, Muad'Dib não é
capaz de compreendê-lo por todo e vários são os acontecimentos
cujas estradas não foram previstas.
Apesar de curto, com
apenas 215 páginas, o livro é um extenso tratado imperfeito sobre
como os mitos se tornam mais importantes de que os fatos. Muad'Dib
trouxe água para Arrakis e tornou o planeta o centro de seu
império, mas terá que enfrentar inimigos que não são a força
bruta dos Harkonnen, os vilões do primeiro volume. Estaria
ele preparado para este jogo político? Estaria ele preparado para
assumir um papel mítico nos fatos e se tornar um messias apenas,
refém das lendas e mitos? E sua irmã, transformada em uma
abominação ainda no ventre de sua mãe quando esta ingeriu a
especiaria, seria capaz de assumir o papel esperado de uma Reverenda
Madre Bene Gesserit?
Infelizmente o
desenrolar não convence. É uma trama longa – ainda que, repito,
um livro curto – onde todos são peões em um jogo cósmico.
Funciona apenas como prelúdio do volume 3 de As crônicas de
Duna, mas ao mesmo tempo demonstra que Frank Herbert poderia
facilmente ter estendido a trama em conflitos militares nos doze anos
de cronologia que separam Duna de Messias de Duna. Não quis
certamente por não ser esta a história que desejava contar, mas se
estranha que o tom messiânico seja usado apenas para dar um
previsibilidade para os fatos. Nada surpreende em Messias de Duna e
só há uma tensão legítima, quando muito, apenas para saber quando
as coisas ocorrerão.
Acima de tudo é um
livro de transição. Não funciona sozinho e só pode ser
considerado um apêndice ou um prelúdio, não exatamente uma
história. Infelizmente é uma obra menor, a ser lida apenas como um
passo para ler a obra por completo.
De qualquer modo a
Editora Aleph, famosa por publicar os romances de Star Trek
nos anos 1.990, continua a sua missão de reeditar as obras de ficção
científicas. Trouxe Isaac Asimov, com sua A Fundação
e sequências, Phillip K. Dick, Edgar Rice Borroughs,
entre outros. Concentrando-se em novas traduções de obras há muito
fora do prelo, a editora foi criticada por alguns que argumentam que
não há renovação. Mas a iniciativa da Aleph é louvável e cria
condições para que em breve haja volumes realmente inéditos e
narrativas recentes no mercado nacional. Basta que os leitores
comprem.
Frank Herbert's Dune
(As Crônicas de Duna)
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1
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Dune (1965)
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2
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Dune Messiah (1969)
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3
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Children of Dune (1976)
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4
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God Emperor of Dune (1981)
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5
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Heretics of Dune (1984)
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6
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Chapterhouse: Dune (1985)
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