Em HawkWorld volume 2 # 1 a 9 por John Ostrander & Timothy Truman (texto) e Graham Nolan (arte) acontece uma grande saga, integralmente publicada no Brasil, e, na época, até com uma certa publicidade.
Publicada em Superalmanaque DC #3 (números 1 a 3) e DC 2000 a partir do número 32, o arco não é muito complexo e vinte anos só fizeram-lhe bem! É simples e direto e mesmo entendendo que há uma série de jogos políticos acontecendo em torno dos personagens em nenhum momento as coisas ficam confusas. Mesmo os personagens que são agentes duplos infiltrados e tem lealdade dividida não fazem um jogo que o leitor realmente não entenda ou ache muito confuso. Ostrander é hábil em narrar este tipo de história e o faz muito bem.
John Ostrander é um roteirista antigo da DC Comics. Tinha feito Lendas (1987) e continuou seu trabalho com Esquadrão Suicida, Nuclear e Pistoleiro (a minissérie). Era, por assim dizer, um escritor indicado para histórias com fundo policial e político. Junto com Paul Kupperberg (criador do Xeque-Mate original) foi um dos responsáveis pela núcleo de espionagem da DC, sendo um dos pontos altos o evento “Janus Directive” (publicado pela Ed. Abril em Superalmanaque DC #2).
Timothy Truman é um bom artista, mas sem muita experiência de texto. Na minissérie HawkWorld volume 1 isto é corrigido pela tempo de produção e certamente a interferência do editor. Ele e Ostrander haviam trabalhado juntos em Grim Jack (há alguns números publicados no Brasil pela Cedibra e Abril). Neste arco eles trabalham junto, até que o autor se afasta da série. Atualmente, depois de anos produzindo à margem da indústria ambos estão na Dark Horse. Ostrander no núcleo Star Wars e Truman em Conan, o cimério.
Graham Nolan era o desconhecido. Sua arte era adequada, um pouco suja, um pouco borrada, mas só melhorou com o tempo. Ficou conhecido por um longo período na série Detective Comics com o roteiro de Chuck Dixon, anos depois. Era o artista do título durante “A queda do morcego” (1992) e só saiu da série após “Terremoto”. Produziu a graphic novel “Coringa, o advogado do diabo” junto com Dixon, que já foi publicada no Brasil.
Os autores produziram uma excelente série policial, não de heróis! Por sinal talvez uma classificação mais próxima seria “série policial, com elementos militares e de sci-fi”. Apesar de nobre Katar ainda não é visto como herói. Em alguns momentos as manipulações feitas pela TV tentam e conseguem vender esta imagem, mas a série não rende-se a isto.
O foco era a perseguição à Byth e o dia a dia na polícia de Chicago, onde os thanagarianos se fixaram. Lembrava um pouco as narrativas de séries de TV policiais como Trovão Azul, por que no fundo era uma série policial onde dois membros do esquadrão voavam e eram descontrolados, podendo em alguns momentos atirar para matar. Ou seja um série policial onde alguns membros tem um maquinário especial.
Mas vamos do começo.
Originalmente a história deveria acontecer no passado, antes de Katar e Shayera se tornarem membros da Liga da Justiça. Mas a DC resolveu explicar que Katar Hol e Shayera Thal vieram para a Terra de modo a estabelecer relações diplomáticas com o planeta após a derrota na Invasão. Os thanagarianos argumentaram que foram iludidos pelos psions.
Posteriormente foi estabelecido que Thanagar sempre teve um agente infiltrado por aqui (em HawkWorld Annual #01, também já publicado por aqui, que comentarei depois).
Katar havia transformado-se num estorvo em Thanagar e continuava patrulhando e financiando causas dos menos desfavorecidos – cargo para o qual indicou Kanjar Ro, outro personagem clássico re-utilizado na série. Ro é um hábil burocrata e cresce na hierarquia depois que transforma o conceito de herói de Thanagar, antes ligado a um homem, agora um título conferido por um período. Ele também abandona as funções que Hol o pagava para fazer lobby e começa seu próprio jogo de poder de modo a ser indicava para uma colônia distante, onde poderia ser dirigente. É bom lembrar que a versão clássica do vilão já retornou em histórias da Liga da Justiça no período da Panini Comics.
Enviado para a Terra com Shayera – que teve a missão adicional de o espionar e enviar relatórios para seu mundo natal durante meses, até romper com isso – a série tenta não citar o problema da Invasão. Alguns diálogos aparecem deixando claro que é após, mas são rápidos. Não seria lógico que dois policiais de uma frota invasora passeassem armados e voando pela cidade a torto e a direito.
Na Terra eles se estabelecem em um Museu, onde ressurge a figura de uma promotora de eventos chamada Mavis Trent, que seria o interesse romântico de Katar, enquanto Shayera se envolveria com um policial negro chamado Jonesy.
O cast se completa com um embaixador, Klus, que está envolvido com Byth e um homem de marketing que decide re-aproveitar os nomes Hawkman & Hawkgirl (corrigido imediatamente para Hawkwoman por Shayera). Neste momento não se fala que já houve heróis com estes nomes na Terra.
Durante HawkWorld volume 1 o foco é em Katar e Shayera é um coadjuvante nobre. Ela é a sobrevivente de uma batida que é adotada por um aristocrata por ser semelhante à filha morta – esta história conveniente teria acréscimos mais à frente. Mas aqui Shayera ganha personalidade e simpatia do público. Enquanto Katar está fascinado com as leis americanas – a Constituição, os Direitos Humanos – é ela que é o fio humano condutor da narrativa. Nervosa e em alguns momentos uma versão feminina de Dirty Harry, Shayera é apaixonante.
Após o fim da série ela retornaria à Thanagar e esteve presente em Hawkman volume 4, num arco já publicado no Brasil pela Panini. Durante a série A Guerra Rann-Thanagar, um dos eventos prévios de Crise Infinita a personagem foi assassinada por Komander, irmã de Koriander (a Estelar dos Novos Titãs).
Chegando na Terra, Byth se estabelece e fornece a droga krotana para humanos em um determinado momento – que descobrem que não podem reverter à forma depois – e depois para alguns traficantes no espaço. No meio tempo contrata um ninja chamado Ladrão das Sombras, para introduzir o personagem. O Ladrão rouba a nave de acesso dos thanagarianos e quase os derrota no espaço.
Acuado e sofrendo com a abstinência de krotana, Byth decide armar para a irascível Shayera. Mata seu namorado Jonesy na sala de instruções da polícia e depois de forçar uma situação, permite que ela o alveje e mate-o em frente às câmeras!
Na verdade, era uma cópia, já que ele tinha poderes de mutação graças à droga e arrancou um pedaço do corpo que assumiu sua forma. Depois de ser entregue à polícia e Katar resolver tomar partido da amiga, a trama é resolvida e Byth apreendido finalmente.
Shayera retorna para Thanagar com uma delegação comercial terrestre e levando o prisioneiro, acreditando que jamais irá retornar ao nosso mundo.