Maryse Boudreaux foi escolhida para portar uma espada mística e junto com amigas contrabandistas de bebidas enfrentam os klus, monstros duplamente: são membros da KKK cujos corpos são receptáculos para criaturas chtulianas na América pós 1ª Guerra. Após uma exibição do filme “O nascimento de uma nação”, criaturas que se alimentam de ódio vem para a Terra e fomentam um grande evento a partir da reestreia do filme.
Conjugando
a cultura negra de vários povos, especialmente o povo Gullah, o Caribe e o Sul dos EUA, P Djèli Clark produz um amálgama que fala
sobre demônios, espíritos, Grande Ciclope e até mesmo Cthullu,
além de usar a ideia do “campeão escolhido”, algo muito comum
na literatura. Clark não se furta a apontar para a responsabilidade das outras
mídias na divulgação de uma discurso racista e separatista. Também é pouco sutil e põe o dedo na ferida quando escolhe suas heroínas: escolhe três
mulheres negras apaixonantes, além de introduz personagens masculinos apenas como
terciários – algo que já havia feito na série “A dead djinn inCairo”. O namorado de Maryse nada mais é do que uma versão da "donzela em apuros".
A noveleta é breve – 159 páginas de texto – e devoramos em um piscar de olhos. Sim, há o clichê do bar, da noite de dança, da socialização, do inimigo que faz uma afronta e tem um plano elaborado, tudo está lá, mas é tudo muito bem conduzido por Djèli, que leva o leitor como em uma dança: sabemos uma parte do que virá, mas é a força da escrita, da descrição dos personagens, dos seres místicos é o que nos fascina e captura.
É um livro para se ler com carinho e pensar como as representações racistas persistem das mídias e quando de ódio isto gera.
Rign
Shout: Grito de liberdade de P. Djèli Clark (2020), tradução de
Bruno Ribeiro. Rio de Janeiro: Macabra/Darkseid Books, 2022. 176
páginas. ISBN: 9 786555 981742. Com texto de Anne Quiangala.