Binti, Nnedi Okarafor [2015]

Talvez uma das frases mais legais da ficção científica atual seja “Eu sou Binti Ekeopara Zuzu Dambu Kaipka da Namíbia”. Ela carrega um peso de autoconhecimento único e apresenta uma pessoa especial. Binti, a menina que é a primeira de seu povo a ir mais longe que suas fronteiras não é única! Tramas de alunos em viagem para a escola onde aprenderão conhecimentos avançados começa bem antes de Ursula Le Guin (O feiticeiro de Terramar, 1968) e vai além, chegando e atravessando JK Rowling. A partida de casa e os desafios são metáforas para o fim da infância, a chegada da adolescência, as responsabilidades e, em algumas séries o início da vida adulta. Mas Binti é especial!

Binti (ISBN 978-0-7653-8446-1, Tor Books, 2015) a novella faz parte de uma corrente da ficção científica chamada “africanfuturism” ou ainda “afrofuturism” que se trata de utilizar a cultura, tradição, cosmologias e estéticas africanas na construção de narrativas próprias, desvinculadas dos modelos ocidentais. Nnedi Okarafor, a autora, não é a única a fazer uso disto – e nem a primeira em que tive contato, mas seu diferencial é a sensibilidade com que trata o tema.

Na trama, Binti, membro da minoria étnica dos himba, está em um conflito. Ela foi convidada para estudar na universidade Oomza Uni em um planeta distante e aparentemente uma referência em ensino. Com grandes habilidades matemática a jovem é uma “harmonizadora” e seria a substituta do pai na loja em que negocia astrolábios. Além disso seu destino está traçado e seu povo nunca deixou seu lugar de origem.

Binti decide fugir e rumar para Oomza Uni, mas no caminho cruzará com os “Medusa” que estiveram em guerra com os khoush – a maioria étnica de seu local de origem. Descobrirá também um uso especial para o otjize – uma pasta que mistura argila, nata de leite, flores e pigmentos e é utilizado com fins estéticos e identitários pelo povo himba, cuja versão da série é baseada em uma etnia que habita a Namíbia – e para um artefato ancestral que encontrou anos antes – o edan.

Além da ação própria do plot há uma genuína sensibilidade em tratar os personagens, suas particularidades, suas visões de mundo e toda sua herança cultural. A autora foge das coisas fáceis e armadilhas de roteiro, não deixando de fazer todas as críticas possíveis, mas apenas de outra forma com uma nova estética e para uma nova audiência.

Interessantíssimo!

Nota: 9/10.