Neil Gaiman é um escritor extremamente sensível e isto pode ser encontrado facilmente em suas obras. O fim de O livro do cemitério (aqui) mostra esta habilidade e isto não impede que às vezes ele se porte com relativa vulgaridade ou faça seus personagens portarem-se assim.
Mas o essencial é que para ler Gaiman é necessário pré-conhecimento. Isto não impede aos neófitos de gostarem da obra, mas aos iniciados o sabor do mel é mais suave. É assim no conto Um estudo em esmeralda (coletânea Coisas frágeis, Conrad) onde ele brinca com nossa percepção dos fatos e somente quem tem pré-conhecimento da obra de Sir Arthur Conan Doyle e HP Lovecraft poderá curtir e entender a sutileza por completo. Mas não impede que o iniciante goste (e entenda), assim como também o sujeito que gosta da Saga do Espelho do Universo.
Então para gostar deste curto arco de duas aventuras do homem-morcego é necessário conhecer o homem-morcego e de preferência apreciar suas aventuras (quem não aprecia o homem-morcego mas gosta do escritor inglês também irá apreciar, mas quem não gosta de nenhum dos dois deve evitar).
Em 1.986 o escritor Alan Moore foi contratado pela DC Comics para escrever a última história do Superman e deu a ela o título de “O quê aconteceu com o homem do amanhã?”. “Homem do amanhã” é um dos apelidos do herói kryptoniano e caracteriza especialmente a produção entre os anos 1950 e fins dos anos 1.970, onde as narrativas apresentavam histórias sci-fi e não raro aventuras que mostravam a grande inteligência e habilidades do herói.
Moore escreveu uma história linda e que é facilmente encontrada no Brasil, já que foi publicada pela Editora Abril, pela Opera Graphica e pela Panini Comics. Vem da beleza e qualidade da história de Moore o estabelecimento do título para a última aventura de Batman.
Então em abril de 2009 (data de capa) chegaram às comics shops americanas Batman #686 e Detective Comics #853, publicadas pela primeira vez no Brasil em Batman #88 e 89, Panini Comics, março e abril de 2.010.
Com arte de Andy Kubert e Scott Williams temos um singelo velório do homem-morcego, onde aparecem seus amigos e inimigos para narrarem versões de suas aventuras e de seu final.
Há sutilezas suaves como o Batman no caixão a cada quadro emular um artista diferente em algumas passagens, ou Andy Kubert emular vários artistas característicos de épocas distintas do homem morcego como Bob Kane, Jerry Robinson, Dick Sprang, Dave McKean, Neal Adams, Bill Sienkiecwz entre outros.
É uma história excepcional, mas não é uma narrativa que serve para conclusão de nenhum dos arcos abertos ou qualquer outra bobagem assim. Assim como “O quê aconteceu com o homem do amanhã?” é a última aventura do Superman, “O quê aconteceu com o cavaleiro das trevas?” é a última história do Batman e ponto.
Vale a pena esta citação:
“O final da história do Batman é sua morte. Pois, se o Batman não morresse no fim, o que mais eu iria fazer? Aposentar-me e jogar golfe? Não é assim que funciona, não pode, eu luto até cair. E um dia vou cair.”
“Mas, até lá, eu luto.” - Batman falando palavras de Neil Gaiman em Detectice Comics #853.